Os impactos desiguais da COVID-19 na população negra no Brasil

Qual foi o tamanho do impacto da COVID-19 na população negra do país em comparação com a branca?

 

Para responder a esta pergunta, analisamos o excesso de mortalidade, ou seja, a diferença entre óbitos esperados e os que realmente aconteceram tanto entre pretos e pardos quanto entre brancos no Brasil em 2020 – o primeiro ano da pandemia do novo coronavírus.

Para chegar nos resultados, utilizamos os dados relativos a causas naturais de morte, ou seja, óbitos causados por doenças ou mau funcionamento interno do corpo. Nesta classificação estão incluídos óbitos por COVID-19 e doenças respiratórias.


Os números da desigualdade

 

Pessoas pretas e pardas morreram 57% a mais do que as brancas, o equivalente a 36 mil óbitos.

 

Pessoas pretas e pardas de mais de 80 anos morreram proporcionalmente quase 2x mais em relação às brancas.

Homens negros tiveram um excesso de mortalidade 55% maior do que homens de cor branca.

Conclusão

A partir desses dados de mortalidade, confirmamos o que não é novidade, mas assusta: as desigualdades sociais e raciais profundas ultrapassam esferas como educação, renda, trabalho, acesso à informação e violências institucionais, chegando na saúde.

A pandemia da COVID-19 colocou em evidência as desigualdades na saúde e no acesso à saúde no país, dado o excesso de mortes durante a pandemia da COVID-19 e o maior excesso de mortalidade entre negros em relação aos brancos.

Sobre a metodologia

Comparamos a quantidade de óbitos esperada em 2020 e a quantidade de óbitos observada para o mesmo ano, usando os dados do Sistema de Informação de Mortalidade e do Registro Civil. A análise foi feita considerando o total de causas naturais de óbito, ou seja, não consideramos os óbitos por causas externas como traumatismos e lesões.

A diferença entre o número de mortes esperadas e o número de mortes observadas é o que chamamos de “excesso de mortalidade”. Esse método permite uma análise das mortes por COVID-19 que não foram contabilizadas, bem como as mortes por outras causas que ocorreram em excesso devido à pandemia. As estimativas de excesso de mortalidade são recomendadas pela Organização Mundial da Saúde para avaliar os efeitos diretos e indiretos da pandemia nos países.

 

O excesso de mortalidade da população negra durante a pandemia reafirma a necessidade de orientar as políticas públicas para reverter as desigualdades sociais e raciais profundas e reparar os danos causados às pessoas pretas e pardas.